UMA BELEZA FANTÁSTICA: A ARTE E OS LAÇOS HUMANOS SALVAM VIDAS
Em tempos de isolamento e pouco contato social, é comum que o sentimento de solidão tome conta de nós. Com um cenário de incerteza pela frente e anúncios pouco animadores vindos de todos os canais de informação, é preciso lembrar-se da importância da união em seu sentido mais puro e singelo para não enlouquecer em meio a uma longínqua quarentena. Tendo como ponto de partida justamente vidas solitárias que se entrecruzam, Uma beleza fantástica (2016) é o equivalente cinematográfico do poder que a gentileza e a amizade podem exercer sobre a vida em coletivo.
O longa inicia a partir do nascimento de Bella Brown, que abandonada próxima a um lago ainda bebê, acaba resgatada por um homem e cresce sem saber o paradeiro de seus verdadeiros pais. Extremamente organizada e tímida, Bella cresce solitária e já adulta, vive em uma casa de frente a um grande jardim e trabalha na biblioteca da cidade, organizando livros, enquanto alimenta dentro de si o sonho de publicar um livro infantil. Sua vida muda quando em uma noite de tempestade, ela destrói por acidente a plantação do jardim em questão, despertando a fúria de Alfie Stephenson, seu vizinho rabugento e dono da propriedade. Para não perder o direito a sua casa, Bella terá que consertar o estrago que causou - e lidar com o mau humor de Alfie.
MAS POR QUE É BOM?
Apesar do ritmo lento a princípio, a beleza do longa não está somente em seu título, mas em tudo que lhe diz respeito. A começar pela extraordinária fotografia e o uso das cores, passando pelo figurino, a mistura que dá tom á película traduz-se em sua atemporalidade. A data exata da história jamais é citada, transitando entre a moda das décadas de 1930 e 1940 e sem o uso de aparelhos móveis, mas com uma linguagem pouco rabuscada ainda que funcional, a sensação que se tem é de que o filme poderia se passar em qualquer época. Ainda na parte visual, os tons de verde, sempre presentes em tela, ajudam a contar a trajetória dos personagens com perfeição, sempre remetendo a natureza presente no jardim de Alfie bem como a imaturidade inocente de Bella.
Da mesma maneira, personagens secundários não são meros adereços aqui, chamando atenção por suas camadas ao longo da história. Destaque para Vernon, cozinheiro de Alfie que acaba tornando-se amigo de Bella e Billy, um jovem inventor por quem ela se apaixona.
À medida que o filme avança, os laços sobretudo de amor e amizade entre os personagens se fortalecem cada vez mais, até que a solidão que no início era o que secretamente tinham em comum, fica para trás, dando lugar a uma verdadeira corrente do bem, interligada pelo senso de bondade e coincidentemente a arte em comum na vida de todos.
Sutilmente, Uma beleza fantástica ainda consegue mostrar como todas as pessoas têm talento para algo, e como esse talento quando usando de maneira sábia, pode mudar a vida ao redor. Enquanto Bella possui uma imaginação fértil que a leva inevitavelmente ao caminho da escrita; Alfie é apaixonado por jardinagem e sabe tudo sobre flores; Vernon é um exímio cozinheiro e Billy cria pequenas máquinas voadoras em sua garagem. Todos tem o seu próprio momento de brilhar e quando se juntam, acabam formando uma família antes inimaginável.
Com um final levemente agridoce mas poderosíssimo, Uma beleza fantástica deixa uma mensagem tão clara e reluzente quanto os olhos de sua protagonista: a de que apesar da solidão em certos momentos, a vida pode ser bela, e somente a arte, a gentileza, a esperança e o amor são capazes de nos salvar do caos.
Nota: 🌟🌟🌟🌟🌟 + 💚
Uma beleza fantástica está disponível na Netflix 😊
REFERÊNCIAS:
• Todas as imagens usadas neste texto foram retiradas do Pinterest.


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