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#FrancesHa

FRANCES HA: SER ADULTO EM UM MUNDO DE COMPARAÇÃO


Muito se fala sobre as dificuldades que implicam em ser jovem. E mesmo quando o assunto é "ser jovem" a primeira coisa que nos vem à cabeça é adolescência. Como se juventude se resumisse apenas a ensino médio, primeiras vezes e formatura. Longe de mim querer diminuir essa fase específica da vida - até por que já passei por ela e sei muito bem o quão importante é debater sobre isso - mas acontece que este conceito vai muito além da escola ou decisão de carreira.

Somos programados para buscar energia e vitalidade eternamente, pois só assim podemos ser "felizes" ou nos sentirmos "úteis", bem como, o ritmo frenético do mundo contemporâneo dita essa necessidade em nós e se não corrermos atrás da tal "fonte da juventude", nos tornamos obsoletos e ficamos para trás. Consequência dessa busca desenfreada, temos pessoas ansiosas, infelizes e ainda vitimas da chamada síndrome da comparação social.

Um retrato perfeito dessa realidade, sobretudo quando se fala em comparação, é Frances Ha(2012). O longa conta o dia-a-dia da personagem-título, uma mulher de 27 anos que como a maioria dos jovens adultos se vê dividida entre seguir seu sonho ou conseguir um emprego mediano mas que possibilite que ela pegue seu aluguel em dia, enquanto tenta lidar com as intermináveis comparações entre sua vida e a de seus amigos.


MAS POR QUE É BOM?

" Estou tão envergonhada. Não sou uma pessoa real ainda."

Indo na contramão da maioria dos filmes que apresentam essa mesma temática, Frances Ha se diferencia justamente por conta de seu tom, bem menos otimista do que o usual. 

A começar pela fotografia, totalmente em preto e branco, a impressão inicial que se tem é que trata-se de uma homenagem a velha Hollywood, por conta da vibe nostálgica que cerca a personagem Frances, mas a medida que o filme avança, fica claro que o fato do filme ser rodado sem qualquer presença de cor é apenas uma artimanha da direção para dar embasamento ao dia-a-dia da protagonista, por muitas vezes apático e melancólico. Não por tragédias ou acontecimentos necessariamente tristes, mas por conta da rotina massante e sem uma recompensa derradeira ao qual nos acostumamos numa jornada do herói.

Se há algum contraste, este fica para a personalidade de Ha, que é o que nos tira algum suspiro de alívio e lhe confere um espírito jovem. Ainda que todos os fatos a atinjam direta ou indiretamente e em sua maioria sejam desagradáveis, Frances não chora nem desmorona. Simplesmente levanta a cabeça e segue em frente, ainda que seu sonho pareça distante e inalcançável.

O saldo final do longa é sutil e talvez por isso quase passe despercebido, mas ainda assim carrega uma importante mensagem, sobretudo para a geração que já nasceu conectada: a vida de ninguém é perfeita.

"Mas, seu blog parece tão feliz."

Mesmo que tentemos fazê-la parecer, todos temos problemas, frustrações e dias ruins, e nenhum filtro do Instagram é capaz de mascarar completamente a normalidade de uma rotina.

Logo, o crescimento e o amadurecimento são passos curtos, pessoais e intransferíveis, e a comparação não é o melhor caminho, senão o mais tortuoso.

Independente da conquista, idade ou objetivo de vida, cada indivíduo tem seu próprio tempo e ainda que falhemos no caminho até a realização, a maturidade e o aprendizado são consequências certeiras e preciosas.



Nota: 🌟🌟🌟🌟🌟


REFERÊNCIAS:


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