Pular para o conteúdo principal

#ComoSuperarUmFora



COMO SUPERAR UM FORA: PORQUE A PRINCESA NÃO PRECISA DE AJUDA PARA SER SALVA


Entre clichês adolescentes batidos e comédias românticas previsíveis, é fácil estafar-se de um gênero já desgastado e aparentemente sem nada mais a dizer. Ainda assim,  alguns filmes conseguem salvar-se deste limbo e acabam por se mostrar verdadeiras pérolas, com lições preciosas e finais que fogem ao lugar-comum. O achado da vez é o peruano Como superar um fora (2018), produção original da Netflix que acerta em cheio ao abordar os relacionamentos sob um ponto de vista empoderado e cheio de graça.

O longa nos introduz ao mundo de Maria Fe, uma jovem e talentosa publicitária que após levar um pé na bunda do namorado de forma repentina, passa a reavaliar suas decisões  e enquanto tenta adaptar-se à "vida de solteira", decide iniciar um blog para compartilhar suas experiências amorosas com outras mulheres, sem sequer imaginar a oportunidade de recomeço que isso lhe trará.

MAS POR QUE É BOM?


Por conta de seu tom arrojado e sua sensibilidade inteligenteComo superar um fora é uma das melhores surpresas da plataforma em tempos. Com uma narrativa simples e sem qualquer rodeio, o filme ganha o público justamente por suas camadas. Com um tempo de tela incrivelmente bem aproveitado, todos os aspectos da vida de um jovem adulto são abordados e suas quase 2 horas de duração passam num piscar de olhos, nos deixando com um gosto de "quero mais".

Optando por uma abordagem cômica, porém realista, o filme não foge aos clichês do gênero mas os abraça para fazer pequenas críticas ao longo da narrativa. Elementos como o machismo sofrido no ambiente de trabalho, influência das mídias em nosso dia-a-dia, autoestima, luto amoroso e até mesmo a síndrome da comparação social são pontuais e ainda que por vezes sutis, não passam despercebidos aos olhos do telespectador.

Com um elenco (diga-se de passagem, incrível) e  em sua maioria formado por mulheres, o filme acerta mais uma vez ao retratar as inseguranças e incertezas da protagonista de uma maneira muito real e comum, principalmente quando o foco é o término de um relacionamento. Aqui, a direção jamais julga as atitudes de Maria Fe, deixando essa missão para o público de casa - e para ela mesma. Mergulhamos verdadeiramente em suas emoções, enxergamos aquele mundo através de seus olhos e inevitavelmente, amadurecemos junto dela, aos trancos, barrancos e com algumas boas doses de sororidade, feminismo e amizade.



O saldo final é uma história leve, gostosa e carregada de amor-próprio e autoconfiança. E claro, o lembrete de que a felicidade não está em um "príncipe encantado", tão pouco nas entranhas de uma relação amorosa, mas sim dentro de nós mesmas.

Nota: 🌟🌟🌟🌟🌟

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

#RelatosSelvagens

RELATOS SELVAGENS: QUANDO A FÚRIA CRUZA O CAMINHO DE PESSOAS COMUNS Talvez não exista algo tão humano quanto a ira. Ainda que a sociedade como um todo tenha evoluído em quesito de civilização, principalmente quando o assunto é a aplicação da ciência ou mesmo o modo de conduzir a vida nos grandes centros urbanos - fruto da globalização - a verdade é que nas entranhas de cada um, a fúria é um sentimento comum e uma vez despido de qualquer pudor, pode causar verdadeiros estragos. Apesar de soar cruel, essa constatação é a que comanda o mordaz  Relatos Selvagens   de 2014.  O longa narra a vida corriqueira em histórias independentes, que se interligam apenas por tratarem do mesmo tema: a bestialidade. As seis narrativas são sequencialmente "Pasternak" , "Las Ratas", "El más fuerte" , "Bombita", "La Propuesta"  e "Hasta que la muerte nos separe" . MAS POR QUE É BOM? Com uma pitada de Um dia de fúria (1993...

#UmaBelezaFantástica

UMA BELEZA FANTÁSTICA: A ARTE E OS LAÇOS HUMANOS SALVAM VIDAS  Em tempos de isolamento e pouco contato social , é comum que o sentimento de solidão tome conta de nós. Com um cenário de incerteza pela frente e anúncios pouco animadores vindos de todos os canais de informação, é preciso lembrar-se da importância da união em seu sentido mais puro e singelo para não enlouquecer em meio a uma longínqua quarentena. Tendo como ponto de partida justamente vidas solitárias que se entrecruzam , Uma beleza fantástica (2016) é o equivalente cinematográfico do poder que a gentileza e a amizade podem exercer sobre a vida em coletivo . O longa inicia a partir do nascimento de Bella Brown , que abandonada próxima a um lago ainda bebê, acaba resgatada por um homem e cresce sem saber o paradeiro de seus verdadeiros pais. Extremamente organizada e tímida, Bella cresce solitária e já adulta, vive em uma casa de frente a um grande jardim e trabalha na biblioteca da cidade, organizan...

#SessãodaTarde

SESSÃO DA TARDE: DE SINÔNIMO DE FÉRIAS A MARCO DE UMA GERAÇÃO  Se existisse um hall da fama dos programas mais clássicos e lembrados da televisão brasileira, a Sessão da Tarde com certeza teria seu lugar para lá de garantido. Afinal, já são 46 anos de trajetória e muitos filmes no currículo. Da aventura ao drama, o horário vespertino da Globo já exibiu um pouco de tudo, e entre enlatados desconhecidos até verdadeiras obras-primas do cinema, a atração mantém-se no ar, cultivando fãs e haters há quase 5 décadas . Pensando em sua criação ainda em 1974, exibindo filmes hoje tidos como "raros"  - com destaque para obras como King Kong (1976) ,  Ao Mestre com Carinho (1967) e   A Fantástica Fábrica de Chocolate (1971) - talvez não se imaginasse que o programa viria a ser um dos mais duradouros da história. Após seu início tímido, ainda passou por baixas audiências e trocas de horário até consagrar-se. As coisas tomaram um rumo diferente so...